Se você nunca ouviu o nome Geralt de Rívia e não sabe do que se trata a saga intitulada "The Witcher", meus parabéns, você tem uma das mais incríveis experiências que o entretenimento literário já criou esperando por você e eu de certa forma, o invejo. Basta você decidir se entregar a ela, e a paixão será inevitável.
Não faz muito tempo que me interessei pelo assunto, como acompanho o cenário de lançamentos de jogos digitais, me deparei com os trailers de um jogo que era listado como um dos mais aguardados para o ano de 2015, "The Witcher 3: Wild Hunt". Eu já ouvira falar muito da saga, porém meu conhecimento era quase nulo do cânone existente, e por querer jogar aquele título que tanto prometia, aceitei o desafio de conhecer aquele universo. E assim começou a minha saga..
Originalmente, a obra que depois veio a se popularizar pelo nome de The Witcher, é uma sequência de 7 livros escritos pelo polonês Andrzej Sapkowsky, que depois foi adaptado para a série de vídeo games e que até então possuía 2 jogos lançados. O enredo conta as aventuras do witcher (ou bruxo, em português) Geralt de Rivia, um viajante com habilidades de combate bem específicas que roda o mundo medieval de Temeria e seus arredores em busca de contratos para assassinar monstros ou outras pestes maléficas que por ventura causem problemas a população. A premissa da obra é essa, simples e direta, um caçador de aventuras, que recebe para enfrentar desafios.
Por cerca de 4 meses, estive envolvido na leitura absolutamente cativante da saga literária (dos livros que pude, visto que 3 dos 7 livros ainda não foram traduzidos do polonês). A escrita de Sapkowsky é excelente, ele tem um dom raro de criar situações inesperadas e reviravoltas marcantes. A construção do personagem principal, Geralt é, sem meias palavras, genial, e não é difícil perceber o por quê. Geralt é um personagem dramático, suas origens, que consistem no processo de se tornar um bruxo, são um compilado de tragédias horrendas, ele foi abandonado pela mãe, largado para ser uma experiência mágica bizarra, uma criança colocada sobre provações de sofrimento físico e psicológico absurdas, afim de se tornar forte e ao mesmo tempo frio e sem sentimentos. Geralt é tudo que se precisa para construir um vilão, mas daí resulta o inesperado, que é o grande milagre de sua criação: Geralt é bom, com um senso de justiça e cordialidade simples, mas perfeito. Um herói nato, e ainda detentor de um senso de humor irónico e delicioso. E desse contraste, somado a forma intimista que são colocadas as aventuras dele para o leitor, surge o primeiro sentimento que define a obra. Um afeto arrebatador pelo seu protagonista, Geralt se torna, em pouco tempo, um dos personagens que você mais irá admirar, para sempre.
E é também do contraste que surge o segundo sentimento, que é grande tema da saga, a dúvida. Geralt foi lapidado afim de se tornar uma criatura simples, quando alguém paga e aponta a direção do problema, ele o resolve, e resolver aqui quase sempre significa que algo deve morrer. Bruxos são assim, não tomam partidos em guerras ou conflitos, não entram na briga de ninguém, não sem receber uma boa quantia para isso. Mas diante da simplicidade mecânica que o personagem é moldado, surgem questões que vão além do certo e do errado, que envolvem muitas vezes escolher um "mal menor", um termo utilizado dezenas de vezes ao longo da saga. O mundo de Temeria está em guerra, há conflitos por toda parte, desde minorias raciais sendo perseguidas a batalhas entre reinos em diversas disputas por terra. A princípio seria fácil para Geralt se manter fora de tudo isso, porém tudo muda quando o destino coloca sob sua proteção a pequena Ciri, uma criança de sangue ancestral que possui poderes raros e se torna o centro das atenções de quase todos os poderosos de Temeria. Geralt agora será forçado a fazer escolhas e a se envolver, e o resultado disso será inesperado e épico.
Até então, já teríamos o suficiente para a construção de uma obra incrível, mas The Witcher não para por aí, e levanta dentro do seu contexto medieval, questões sérias do pensamento moderno, como por exemplo, o uso do tempo, o destino, as escolhas da vida e a noção da mortalidade. Devido a sua condição de bruxo, Geralt possui uma longevidade muito prolongada, o que lhe permite passar a saga inteira tendo praticamente a mesma aparência, porém é nas atitudes, nos sentimentos expostos pelo autor, que Geralt mostra sua idade, e ver esse personagem envelhecer, é um espetáculo a parte. Geralt que já começa um personagem feito, será remodelado por suas experiências, e tudo que ele vivência o altera, o crescimento dele é natural, orgânico, humano. Outro ponto a se ressaltar, é a vida amorosa de Geralt. Dentre as personagens femininas de Temeria, o aventureiro, forte e ao mesmo tempo dramático, parece ser simplesmente irresistível, e as situações criadas a partir disso serão cômicas, picantes e muitas vezes, emocionantes.
A essa altura já percebi que meu texto não encontrará uma conclusão tão cedo se eu continuar citando os pontos marcantes da obra, então terei que me controlar. Resta apenas dizer que após cerca de 6 meses imerso nesse universo, tendo lido os livros, assistido versões resumidas do gameplay dos 2 primeiros jogos baseados na saga, e terminado "The Witcher 3: Wild Hunt", jogo que finaliza a saga do bruxo Geralt com quase 150 horas de gameplay, posso dizer que foi uma das experiências mais marcantes que já tive. A sensação é a de ter vivido uma vida inteira em apenas 6 meses. E a saudade que Geralt, seus amores e amigos deixaram, chega a ser cruel. E é assim que percebo que a saga, seja livro ou jogo, é perfeita.
Geralt de Rívia será sempre aquele velho amigo, que eu nunca irei esquecer, que será motivo de sorrisos solitários ao lembrar, e que espero encontrar novamente, algum dia quem sabe, em alguma aventura por aí..
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